Dias azuis

Os nossos dias são azuis, bordados a branco numa vida cor-de-rosa
A tua pele na minha é vermelho de paixão numa luz que é só nossa
Luz forte e cintilante no teu sorriso enfeitiçado pela noite escura
Guia-nos pelos bosques castanhos em sinal que findou a procura
Sussurras-me “amo-te” ao ouvido, enquanto me atiras bem alto no ar
Caio numa cama macia e quente, respondo “eu também” com o olhar
Pões a alma a nu escrevendo longas promessas de amor no espelho
Tocas-me suavemente como prelúdio de uma noite passada a vermelho

Sinto o meu coração bater mais forte, julgo que estás de partida
Mas repetes-me mais uma vez devagarinho qual é a cor da nossa vida
Sei que teremos uma cor a cada dia, mas que será sempre colorida

Amanhã quero um dia azul, para brincar com as nuvens e sonhar
Que nunca mais saio dos teus braços, numa história de encantar
Em que leio e releio as páginas coloridas para nunca mais terminar

Nash(ito)

Simple things

 

I wonder
You wonder
If you know this song
You wonder
I wonder
If I’m able to sing it alone
Simple things are so true
And I love you
If we can do it,
Why can’t we just stay true?
When you’re down,
You can sing it with me
When you cry,
Why don’t you give it a try?
When you’re down,
Try any song
Nothing’s right,
Nothing’s wrong
I whisper
You whisper
What does this confusion lead?
I wonder
And you say
This is more simple that it seems

Simple things are easier to see
And you love me
If we can do it,
Why can’t we just be?
When you’re down,
You can sing it with me
When you cry,
Why don’t you give it a try?
When you’re down,

Try any song
Nothing’s right,
Nothing’s wrong
I wonder
You wonder
If simple things are true
You wonder
And I wonder
If you ask me,
I do

Silence 4

Eu estive lá 😉

Matemática em poesia

Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Expoente à Base…
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezoidal,
Seios esferóides, corpo ortogonal.
Fez da sua vida
Uma paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
“Quem és tu?”, indagou ele
Com ânsia radical.
“Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode-me chamar Hipotenusa.”
De falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs:
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar,
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro,
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum…
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu
A Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade como, aliás, em qualquer Sociedade.

O Guardador de Rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

PS: Fotos tiradas quando andava “perdido” pelo parque municipal de Weimar (Julho 2006) .

Quando se tenta descobrir Matemática e ao mesmo tempo fazer poesia

Acontecem-nos imprevistos como este poema que acabei de escrever.
Espero que o sejam capazes de decodificar. Vão ver que precisam de fazer algum esforço no início, mas penso que depois o texto torna-se progressivamente mais fácil de entender.

M473M471C0 (53N54C1ON4L):
4S V3235 3U 4C0RD0 M310 M473M471C0.
D31X0 70D4 4 4857R4Ç40 N47UR4L D3 L4D0
3 P0NH0-M3 4 P3N54R 3M NUM3R05.
C0M0 53 F0553 UM4 P35504 5UP3R R4C10N4L.
540 5373 D1570, N0V3 D4QU1L0…
QU1N23 PR45 0NZ3…
7R323N705 6R4M45 D3 PR35UNT0…
M45 L060 C410 N4 R34L
3 C0M3Ç0 4 F423R V3R505 D3 4M0R
C0M R1M4 0U 4T3 53M R1M4 N3NHUM4

N3L50N F4U571N0, 21 Junho 2007


Texto Zen

No instante de um pensamento,
Minha mente turbulenta chegou a um descanso.

O interior e o exterior,
Os sentidos e seus objetos,
São completamente lúcidos.

Em uma volta completa,
Esmaguei a grande vacuidade.

As dez mil manifestações
Surgem e desaparecem
Sem qualquer razão.

— Han-shan

Frescura doce da minha fonte


Frescura doce da minha fonte
tocas-me sensivelmente
fazes-me suspirar
És a verdadeira razão do meu viver

Vim em socorro de tuas lágrimas
Delas fiz a água que corre no rio
intensamente sem parar
Delas extraí a pureza fina, suave
e a partir dela te criei,
te fiz mulher
te dei vida

Ordenei aos céus que chovesse para ti
Pétalas de rosas perfumadas
Mas tu ignoraste a minha oferta
Frescura doce da minha fonte
Porque agora és mal agradecida?
Porque tens preconceitos?

A água da fonte secou …
Pingaram pingos de chuva sobre ti
Mas rejeitaste-os
apenas e só por quereres ser mais Mulher.

PS: Mal ou bem, fui eu que escrevi esta poesia 🙂

Poema em Homenagem ao dia da mulher


Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.

Elas lutam por aquilo em que acreditam.
Elas levantam-se contra a injustiça.
Elas não aceitam um “não” como resposta quando
acreditam que existe melhor solução.

Elas andam sem sapatos novos para
que os seus filhos os possam ter.
Elas vão ao médico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente.

Elas choram quando os seus filhos adoecem
e alegram-se quando os seus filhos ganham prémios.
Elas ficam contentes ao falarem de um aniversário
ou de um novo casamento.

Pablo Neruda

Tudo bem, tudo bem …

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém
Aparecer ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És, parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem…
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
Tudo bem, tudo bem…
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Tudo bem, tudo bem…
Acho que estou gostando de alguém
Tudo bem, tudo bem…

Passei toda a noite sem dormir …


Alberto Caeiro, pormenor do mural de Almada Negreiros na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1958).



Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


Alberto Caeiro